Por Ana Amélia Erthal
Nos tempos medievais era impossível que estudantes e instituições possuíssem o mesmo livro. Os livros manuscritos eram ditados e os estudantes o decoravam.
A atividade solitária da leitura era reservada aos eruditos e intelectuais avançados. Os primeiros livros impressos eram 'auxiliares visuais' na instrução oral, pois se aprendia ouvindo e fazendo.
As tecnologias de reprodução em massa como a prensa de Gutenberg e a fotografia, acabaram com a era de escassez de informação, tornando-a acessível a muitos e numerosas vezes, em muitos lugares. A era da urbanização, com rodovias ligando cidades em franco desenvolvimento, tornou o jornal o principal meio de comunicação e popularizou revistas ilustradas, partituras, romances, cartões postais, livros infantis e catálogos comerciais.
Nessa época a escrita passou a atuar como instrumento de aproximação cultural e social. Não existia ainda o ofício de redator. Advogados, atores, médicos, qualquer pessoa alfabetizada e dada ao gosto pela escrita podia rechear as colunas de jornais e revistas. Todo cidadão deveria ser alfabetizado, letrado, capaz de ler e escrever.
Pertencemos a essa cultura letrada, em que o indicativo de erudição é equivalente à quantidade de livros na prateleira. Será? Parece que não mais esse tempo também já passou.
O pesquisador canadense Derrick de Kerckhove, diretor do MacLuhan Program da Universidade de Toronto, esteve no Brasil para uma série de eventos, entre eles a palestra "Novos hábitos de leitura na cibercultura". Derrick falou sobre como nos comunicamos com exagero, com fartura, sem nos darmos conta disso.
Nossos hábitos mudaram totalmente com a internet. Lemos e escrevemos muito mais do que antes dela, estamos aprimorando nossa língua portuguesa dinamicamente, diariamente, e ainda descobrindo e usando outras línguas pela web.
Você já parou para pensar em quantos e-mails você lê e escreve por dia? Quantas mensagens você troca no msn? Quantos scraps você recebe e deixa no Orkut? Quantas consultas você faz ao Google? Quantas páginas e mais páginas você percorre, sem sequer virar uma folha? E quantas vezes você deixa de consultar o livro que está na prateleira atrás de você porque em três segundos o buscador retornou seis mil resultados com a palavra que você pesquisou?
Criamos uma nova gramática para trocar mensagens, para nos comunicarmos com agilidade, e, mesmo sendo pontuada por erros ortográficos e por emoticons, ela funciona! (veja mais no artigo "A construção de uma nova gramática" ).
Trocamos hiperlinks por tags, criamos espaços exclusivos e confiáveis para discussão de assuntos importantes e de interesse público. Cunhamos nossas expressões na linha da história, que um dia, ao ser observada pela próxima geração, provavelmente será ridícula: "Nooossa, eles usavam papel!".
Up the webwriters!
Nenhum comentário:
Postar um comentário