Presentear é uma parte surpreendentemente complexa e importante da interação humana.
Psicológos recomendam: apesar das lojas lotadas e do materialismo, no Natal, presenteie.
Quando minha mãe faleceu há alguns anos, meus irmãos e eu discutimos as muitas maneiras em que a vida seria diferente sem ela. “Não vamos mais ter presentes”, observou meu irmão. Minha mãe era apaixonada por presentes.
Quando adulta, eu com freqüência insistia para que ela parasse de dar presentes e gastasse um pouco consigo mesma, mas ela se recusava a fazer isso. Ela gostava demais de dar presentes.
Dar presentes há muito vem sendo um dos assuntos favoritos sobre o comportamento humano, com psicólogos, antropólogos, economistas e marqueteiros dando suas opiniões.
Eles chegaram à conclusão que dar presentes é uma parte surpreendentemente complexa e importante da interação humana, ajudando a definir relacionamentos e estreitar laços com a família e amigos. Realmente, psicólogos afirmam que com freqüência quem dá o presente, e não quem recebe, quem colhe os maiores ganhos psicológicos de um presente.
Frustradas pelas lojas lotadas, pelo trânsito e pelo comercialismo existentes nesta época do ano, algumas pessoas podem se sentir tentadas a abandonar a idéia de dar presentes.
Uma pesquisa de 2005 demonstrou que 4 entre 5 americanos acham que as festas de fim de ano são materialistas demais, de acordo com o Centro do Novo Sonho Americano, que promove consumo responsável. Mas, enquanto parece ser razoável diminuir um pouco os gastos no fim de ano, os psicólogos afirmam que abandonar totalmente o ato de presentear as pessoas queridas não é melhor resolução
As pessoas que se recusam a dar ou receber presentes durante essa época do ano, afirmam especialistas, talvez estejam perdendo uma importante parte da conexão com seus amigos e familiares. “Isso não ajuda o relacionamento”, afirmou Ellen J. Langer, professora de psicologia de Harvard.
“Se eu não permito que você me dê um presente, então não estou encorajando você a pensar em mim e pensar em coisas que gosto. Estou impedindo você de sentir a alegria de se envolver em todas essas atividades. Você presta um desserviço às pessoas ao não presenteá-las com o dom de presentear”.
O valor social de presentear tem sido reconhecido ao longo de toda história da humanidade. Ao longo de milhares de anos, algumas culturas nativas participaram do potlatch, uma complexa cerimônia que celebra o ato de presentear ao extremo.
Apesar de as interpretações culturais variarem, com freqüência o estatus de uma determinada família num clã ou vila era ditado não por quem tinha mais posses, mas, em vez disso, por quem dava mais presentes. Quanto mais suntuoso e dispendioso o potlatch, mais prestígio ganhava a família que recebia.
Alguns pesquisadores acreditam que as forças evolutivas talvez tenham favorecido o ato de dar presentes. Os homens que eram mais generosos talvez tenham tido mais sucesso reprodutivo com as mulheres. (Notavelmente, a utilização de comida para obtenção de acesso sexual e cuidados com a aparência foi documentado em nosso parente primata mais próximo, o chimpanzé).
Mulheres que tinham habilidade de dar presentes seja comida extra ou uma pele com bom caimento ajudaram a sustentar o provedor da família e também as crianças.
Margaret Rucker, psicóloga do consumo da Universidade de da Califórnia, afirma que os homens normalmente estão mais preocupados com o preço e com questões práticas no que diz respeito aos presentes que dão e recebem, enquanto as mulheres se preocupam mais com dar e receber presentes que tenham um significado emocional.
Rucker diz que com freqüência ela relembra a história de um homem que subiu numa árvore para pegar o ovo de um passarinho que combinasse com os olhos azuis de sua namorada. “As mulheres dizem, 'oh, que romântico'”, afirmou ela. “Mas os homens dizem 'Essa é a coisa mais boba que já ouvi falar e além disso, e a mamãe passarinho?'”
As diferenças relativas a sexo no ato de presentear parecem surgir logo no início da vida. Pesquisadores da Loyola University Chicago estudaram crianças de 3 e 4 anos numa creche, e todos haviam ido à mesma festa de aniversário.
As meninas normalmente iam às compras com suas mães e ajudavam a escolher e embrulhar os presentes. Já os meninos com freqüência não sabiam qual era o presente que dariam. “Eles diziam algo como 'tirei um cochilo quando minha mãe foi comprar o presente'”, declarou Mary Ann McGrath, reitora associada da faculdade de administração de Loyola.
Dar presentes com freqüência é maneira mais óbvia de um parceiro demonstrar interesse, estreitar laços ou mesmo sinalizar o fim de um relacionamento. Um colega de Rucker notou que ela sabia que seu casamento estava acabando quando seu marido lhe deu um presente numa sacola de compras marrom.
Pessoas que param de dar presentes perdem um importante sinal dado pela vida social.
“Quem está na sua lista de presentes diz a você quem é importante em sua vida”, diz McGrath. “Isso estabelece quem é mais importante e quem é menos importante”. Mas, o maior efeito de se dar um presente talvez seja sobre nós mesmo. Dar presentes a outros reforça nossos sentimentos por eles e nos faz sentir eficientes e afetuosos, afirmou Langer.
Para se ter um vislumbre do que é a psicologia do ato de presentear, pesquisadores da Virginia Commonwealth University recentemente estudaram o modo como pessoas que possuem animais de estimação dão presentes, descobrindo que isso se originava de um desejo de fazer os animais felizes e de dar presentes que aumentassem o conforto e cuidado com os animais.
A pesquisa, a ser publicada no ano que vem, pode parecer frívola, mas também proporciona um insight sobre a natureza egocêntrica do ato de presentear, uma vez que os animais de estimação não são capazes de presentear de volta, observaram os pesquisadores.
“Quando você dá um presente para outra pessoa, há uma pressão pela reciprocidade, mas isso não existe quando se trata de um animal de estimação”, afirmou Tracy Ryn, professora associada de pesquisa em propaganda da Virginia Commonwealth. “Isso mostra que há muito prazer no ato de dar um presente, você está cuidando de alguém”.
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