via Scientific American Brasil
Para mais de 300 milhões de pessoas que sofrem de enxaqueca, a dor lancinante característica dessa cefaléia debilitante dispensa descrição. Para os que não sofrem com ela a comparação análoga mais próxima talvez seja o mal-estar severo provocado pela altitude: náusea, fotossensibilidade extrema, e uma cefaléia insuportável.
“O fato de não se morrer de enxaqueca, para aquele que experimenta o auge de sua crise, soa como um bênção ambígua”, escreveu Joan Didion, em 1979, no conto In bed (Na cama), de sua coletânea The white album."
Registros históricos indicam que essa doença está entre nós há pelo menos 7 mil anos e continua uma das mais incompreendidas, menos reconhecidas e mais inadequadamente tratadas condições médicas.
A enxaqueca, finalmente, começa a receber a atenção que merece. E parte dessa atenção é resultado de estudos epidemiológicos que revelaram o quanto essas cefaléias são incapacitantes: um relatório da Organização Mundial da Saúde descreveu a enxaqueca como uma das quatro doenças crônicas mais comprometedoras.
E uma outra preocupação se deve ao reconhecimento de que essas cefaléias e suas conseqüências custam à economia americana, por exemplo, US$ 17 bilhões por ano, para cobrir faltas no trabalho e despesas médicas.
Grande parte do crescente interesse é resultado das novas descobertas genéticas, do imageamento do cérebro e da biologia molecular. Embora de natureza bem distinta, essas descobertas parecem convergir e reforçam umas às outras, trazendo esperanças aos pesquisadores de poder determinar a fundo as causas da enxaqueca e desenvolver terapias avançadas para preveni-la ou conter o seu ataque.
Toda explicação plausível para a enxaqueca deve considerar uma ampla e variada gama de sintomas. A freqüência, duração, experiência e catalisadores dos episódios diferem enormemente.
As vítimas têm, em média, um ou dois dias inteiros de crise por mês. Contudo, 10% têm crises semanais; para 20%, elas duram de 2 a 3 dias; e cerca de 14% são acometidos por mais de 15 dias ao mês.
Os exames de imagem da atividade cerebral mudaram o entendimento das alterações vasculares. Descobriu-se que em muitos a dor é precedida não pela diminuição do fluxo sangüíneo, mas pelo seu aumento – cerca de 300% a mais.
Durante a crise de cefaléia, porém, o fluxo sangüíneo não é aumentado; na verdade, a circulação é aparentemente normal ou até reduzida. E não só a compreensão específica do fluxo sangüíneo mudou como também o panorama da causa da enxaqueca. Agora, acredita-se que a enxaqueca resulte de um distúrbio do sistema nervoso – e provavelmente de sua região mais primitiva, o tronco cerebral. [Leia+]
"Quando a onda de hiperexcitabilidade viaja através do córtex ela ativa a liberação de neurotransmissores, como o glutamato e o óxido nítrico, além dos íons. Essas substâncias atuam como mensageiros que induzem os nervos trigêmeos a transmitir sinais de dor."
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