domingo, 15 de julho de 2007

Envelhecer e morrer são acidentes de percurso, efeitos colaterais de processos que não têm relação direta com um fim “intencional” da vida.

via G1

O conselho é mais velho do que andar pra frente, mas não é menos válido por causa disso: cuidado com o que você deseja.

O exemplo mais aterrador de falta de cuidado com desejos que me vem à cabeça envolve um sujeito chamado Titono, personagem da mitologia grega. Eis um cara que tinha tudo: príncipe de Tróia, um dos homens mais belos de seu tempo, reza a lenda que ele era tão charmoso que nem Eos, a deusa da Aurora, resistiu aos seus encantos. Apaixonada pelo rapaz, Eos pediu que Zeus, o chefão dos deuses, transformasse Titono em imortal. Mas o desejo da deusa tinha sido terrivelmente mal formulado: ela esqueceu de pedir que Titono também ficasse eternamente jovem. O resultado é que, embora não morresse, ele foi se tornando cada vez mais enrugado e carcomido, até acabar virando... um gafanhoto imortal. (Releve a falta de verossimilhança; afinal, é mitologia.)

Titono pode não passar da criação de algum bardo grego com imaginação hiperativa, mas a idéia de que algo intrinsecamente horrendo está associado à busca pela imortalidade continua a nos acompanhar. Como de hábito, no entanto, isso não tem impedido os cientistas de investigar o misterioso processo que produz a velhice e a morte. E o que eles andam descobrindo é surpreendente.

Em primeiro lugar, pode ir tirando da cabeça aquela velha definição sobre os seres vivos que a sua professora do primário certamente fazia a classe repetir em uníssono. (Aposto que ela dizia algo como “os seres vivos NASCEM, CRESCEM, REPRODUZEM-SE, ENVELHECEM e MORREM”, certo?) Acontece, porém, que envelhecer e morrer aparentemente são processos que não estão no mesmo nível dos três anteriores.

Os seres vivos complexos e de muitas células, como plantas, fungos e animais humanos e não-humanos, possuem um programa genético detalhado para guiar seu nascimento, crescimento e reprodução, mas pelo visto não existe nenhum programa parecido que guie a velhice e a morte. Em outras palavras, envelhecer e morrer são acidentes de percurso, efeitos colaterais de processos que não têm relação direta com um fim “intencional” da vida. Resumindo: a mortalidade seria, em princípio, algo evitável. [full]

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