via Ciência Hoje
Sócrates ( circa 470 a.C.–399 a.C.), o grande filósofo grego da Antigüidade, acreditava que “não vale a pena viver uma vida não examinada”. Será? Não haveria a possibilidade de alguém querer examinar demais a própria vida e acabar se enrolando intelectualmente no processo? E seria nossa vida tão excitante e especial assim que deva ser minuciosamente investigada? Lembro-me aqui de um ironista, cujo nome me foge à memória, que afirmou: “Não valeu a pena examinar uma vida examinada”.
Também na Grécia antiga, no pórtico do Oráculo de Delfos, estava gravado na pedra: “Conhece-te a ti mesmo”. A este respeito, ocorre um probleminha que talvez você, leitor, nunca tenha parado para analisar. Exatamente quem é você? Em que sentido você tem permanecido a mesma pessoa durante toda a sua vida?
Uma possível resposta de sua parte seria: “eu sou meu corpo”. Mas seu corpo hoje é com certeza totalmente diferente daquele da sua infância e você ainda continua a se considerar “você”. Como explicar a continuidade do “eu” físico se tudo muda o tempo todo?
O pensador grego Plutarco (45-125?) já filosofava sobre esse problema, usando como modelo o navio do herói grego Teseu, que foi preservado após a sua morte. Ao longo do tempo a madeira foi apodrecendo e as tábuas foram sendo substituídas até que não sobrou nenhuma das originais. A questão é: a estrutura com nova madeira ainda é o “navio de Teseu”?
Essa charada continuou a ser debatida apaixonadamente muito após Plutarco. Por exemplo, o filósofo empirista inglês John Locke (1632-1704) aplicou um raciocínio análogo a um furo que apareceu em sua meia preferida. Será que a meia manteria sua identidade após remendada? E seria ainda a mesma após todo o tecido original ser substituído por remendos? [+]
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