via Revista Fapesp
As memórias peregrinam por regiões do cérebro até se converterem em lembranças ou aprendizados genuínos. Primeiro, as informações alojam-se provisoriamente no hipocampo, região cujo nome se deve à semelhança com a forma de um cavalo-marinho, migrando depois para a camada mais externa, o córtex, num processo de consolidação que acontece durante o sono.
O fenômeno da propagação das memórias é conhecido desde a década de 1950, mas, pela primeira vez, conseguiu-se esquadrinhar as atividades do cérebro envolvidas nesse processo.
Um artigo cujo autor principal é o neurocientista brasiliense Sidarta Ribeiro, 36 anos, diretor científico do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), indica que a construção da memória acontece numa seqüência específica do ciclo do sono: a fase de ondas lentas, em que se dorme profundamente, e a subseqüente fase REM (movimento rápido dos olhos, na sigla em inglês), aquela em que a atividade onírica é intensa.
Sidarta analisou 28 ciclos de sono de 15 ratos de laboratório submetidos durante 20 minutos ao contato com objetos que nunca haviam visto antes. Durante o experimento, o pesquisador monitorou a atividade de centenas de neurônios do hipocampo e de duas áreas do córtex. Na fase de ondas lentas, observou-se de forma mais intensa uma espécie de eco dos padrões de impulsos elétricos observados nos primeiros contatos com os objetos. O fenômeno de reverberação das memórias corresponde à ativação da rede de neurônios que guarda a representação daquela experiência.
Essa reverberação, mostra o estudo, dura horas no córtex, mas é bem mais rápida no hipocampo, numa evidência eletrofisiológica da peregrinação da memória dentro do cérebro. Já durante a fase REM foi registrado um aumento no córtex mas não no hipocampo na expressão dos genes Arc e Zif-268, relacionados à consolidação de memórias. O estudo liderado por Sidarta está sendo publicado na edição de novembro da revista Frontiers in Neuroscience.
“A ativação dos genes durante o sono REM equivale a uma ordem para que o córtex armazene aquela informação que acabou de reverberar, consolidando a memória. A cada ciclo de sono, a memória vai ficando mais ancorada no córtex”, diz Sidarta. “Estamos mostrando, pela primeira vez, evidências moleculares e eletrofisiológicas de como fases específicas do sono participam do processo de migração de memórias.” [Leia+]
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