segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Ilusões móveis

via Mente e Cérebro




Ao “enganar” neurônios especializados em detectar estímulos que se deslocam, certas imagens nos fazem perceber movimento onde ele não existe.

O grande sábio e artista renascentista Leonardo da Vinci deixou um legado de pinturas que combinam deleite estético com um realismo sem igual.

Ele tinha grande orgulho de sua obra, mas também reconheceu que a tela nunca poderia comunicar o sentido de movimento ou de profundidade estereoscópica que exige que cada um dos olhos veja ao mesmo tempo imagens ligeiramente diferentes. Da Vinci reconheceu que havia limites claros para as imagens realistas que ele podia desenhar ou pintar.

Cinco séculos depois, os limites para retratar profundidade na arte ainda permanecem, com exceção, é claro, de edições no estilo “olho mágico” que, por meio de múltiplos elementos semelhantes, entrelaçam as duas imagens que o cérebro capta, cada uma de um olho. Da Vinci também não poderia ter previsto o movimento Op Art dos anos 60, cujo foco principal era criar a ilusão de movimento usando imagens estáticas.

Embora o movimento nunca tenha alcançado status muito elevado entre os críticos de arte, a maioria dos neurocientistas que trabalham com visão adora suas intrigantes imagens. Afinal, como imagens estáticas podem ser percebidas como movimento?

O psicólogo e artista japonês Akiyoshi Kitaoka, da Universidade Ritsumeikan, em Tóquio, desenvolveu uma série de imagens chamadas “cobras girando”, que são particularmente eficazes para produzir ilusão de movimento. Conforme você olha para a imagem ao lado, seu olho percebe círculos girando em direções opostas.

Olhar de soslaio, isto é, usando a visão periférica, faz o movimento parecer ainda mais pronunciado. Manter o olhar fixo na imagem pode diminuir a sensação de movimento, mas mudar a posição dos olhos brevemente renova o efeito. Nessa imagem de Kitaoka, os círculos giram na direção dos segmentos coloridos que vão do preto para o azul, para o branco, para o amarelo e, de novo, para o preto.

As cores, entretanto, servem apenas para aumentar o apelo estético, pois não têm relevância para o efeito. Uma versão acromática funciona igualmente bem desde que o mesmo nível de contraste da versão colorida seja preservado.


Essas adoráveis ilustrações nunca deixam de intrigar homens e mulheres de qualquer idade. Mas por que essa ilusão acontece? Ninguém sabe ao certo. O que sabemos é que os estranhos arranjos baseados em contraste devem de alguma forma ativar “por engano” os neurônios que detectam movimento.

Isto é, os padrões de claro e escuro enganam o sistema visual, fazendo com que se veja movimento onde nada se move. (Não se preocupe caso não veja o movimento; algumas pessoas realmente não conseguem percebê-lo e nem por isso são menos saudáveis.)
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