sexta-feira, 1 de junho de 2007

A poesia soviética como expressão da dor coletiva , Poetas russos alternativos ganham tradução de Lauro Machado Coelho



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Estado

O conhecedor do trabalho do crítico Lauro Machado Coelho sabe que, além da música clássica, assunto que trata com fino rigor nas páginas do Estado, também o cinema e a literatura figuram entre suas preferências. E, se suas críticas cinematográficas publicadas nos anos 1970 no Jornal da Tarde ainda não ganharam a devida seleção em livro, uma de suas paixões, a poesia soviética, ganha finalmente uma bela edição - hoje à noite, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, Machado Coelho lança o livro Poesia Soviética (Algol Editora).

Trata-se de uma seleção confessadamente pessoal: desde a década de 1960, Machado Coelho dedica-se à tradução de poetas de língua russa. Não os representantes da estética oficial, o chamado Realismo Socialista, mas aqueles que buscaram caminhos alternativos, autores como Guérman Plissiétski que escreveu belos versos como 'Não preciso de mares nem de oceanos /não preciso de cidades nem de terra - / me dêem um globo negro'."

A primeira intenção não era publicar, pois Machado Coelho traduzia para si mesmo ou para apresentar a amigos este ou aquele escritor. Daí o caráter puramente pessoal na seleção dos poemas, que inclui tanto um poeta nascido ainda no século 19 (Pável Antokólski) como outro que passou a infância durante a 2ª Guerra Mundial (Iósif Bródski). 'Em nenhum outro país, a poesia tem o poder aglutinador que possui na Rússia, pois o russo encara o poeta como uma espécie de xamã possuído pela Verdade, um iluminado que pode fazê-lo descortinar um lampejo de sentido para as coisas', escreve ele, na introdução do livro.

Afinal, em momentos de exceção (e a história russa é marcada por inúmeras fases de repressão), a poesia destaca-se como o canal ideal para expressar a dor coletiva, como bem destaca Ievguêni Ievtushênko: 'Eu queria que o medo que tivéssemos / fosse o de condenar sem julgamento, / de degradar idéias com mentiras / e, com mentiras, exaltar as pessoas, / o medo de ficar indiferente / quando alguém sente dor, é perseguido, / o medo de não sermos destemidos / quando pintamos ou quando escrevemos.'


Poesia Soviética. De Lauro Machado Coelho. Algol Editora. Livraria Cultura. Avenida Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, 3170-4033. Hoje, 18h30

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