terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Documentário feito por blogueiro mostra como são criadas as celebridades na web



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Uma atriz que canta uma música cujo refrão rima com tomate cru; uma fã que sobe no palco do U2 e ganha um selinho de Bono; um bêbado, no interior de Pernambuco, que promete “matar mil” e uma nutricionista que fala com eco ("sanduíche-iche").


Com certeza o caro leitor já ouviu falar desse pessoal: brasileiros, normais, que de um dia para o outro por motivos completamente diferentes – acabaram indo parar em nossos computadores e ganharam o novo rótulo de celebridades virtuais.

Mas quem são essas pessoas? Como e por que elas aparecem? O que há por trás dessa fama e como esses anônimos são escolhidos para terem seus trabalhos reconhecidos por nós, internautas?

Foi essa montanha de perguntas que o jornalista recém-formado Frederico Fagundes tinha em mente ao produzir como tema de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) o interessante documentário de quase meia hora Célebres Anônimos A Virtualidade da Fama na Cybercultura, que já está disponível na web .

Para realizar o vídeo, o blogueiro do Jacaré Banguela (www.jacarebanguela.com.br) percorreu o Brasil para falar com donos de blogs famosos, sociólogos e as próprias celebridades virtuais.

“Peguei os blogueiros porque eles são formadores de opinião, são as pessoas mais fáceis de divulgar alguém na internet. Na parte das celebridades eu quis falar com quem fez sucesso, não com quem faz.”

Participam do projeto os blogueiros Antonio Tabet, Marcelo Tas, Alexandre Inagaki, Wagner "Mr. Mason" Martins, Rosana Hermann e Edney "Interney" Souza. Já os sociólogos entrevistados foram Carlos Maldonado e Ciro Marcondes.

Entre os “famosões”, Ruth Lemos, Guilherme Zaiden, Ricardo Pipo (do grupo de teatro Os Melhores do Mundo) também falam, além de Givanildo Siqueira, o apresentador que revelou Jeremias José.

Falando nele, Fagundes disse que Jeremias
não pôde falar porque dois advogados estão processando qualquer pessoa que tentar usar a sua imagem. Estrelismo?

O documentário é todo pautado na fala dos entrevistados, que tentam explicar o que faz um anônimo virar célebre do nada, qual o papel da rede nisso e como ela funciona para alastrar o nome daquela pessoa mais rapidamente que fogo na palha, como diz Inagaki.

Isso é o grande mérito do trabalho, pois conversar com essa turma toda tem um grande valor (apesar de “achismos” puros, como a amalucada relação de que a pessoa que consome a rede é a mesma que consome bebida alcoólicas, de Rosana Hermann). Ao mesmo tempo, esse destaque é o seu ponto fraco, pois deixa o roteiro atrapalhado e sem profundidade.

Porém, como começo de estudo, o vídeo é bacana. Além do mais, é um assunto ainda não muito discutido – tanto, que um festival de cinema do Chile contatou Fagundes para exibir no evento uma versão do trabalho com legendas em espanhol.

“O que eu pego do documentário é algo que o Tas falou: desde os deuses da Grécia Antiga as celebridades são a pessoa que você mais se identifica, e a internet facilita muito essa aproximação.”

“A fama na internet acontece torna por acaso, são raras as pessoas como o Zaiden. O resto são pessoas comuns. Quem nunca ficou bêbado como o Jeremias? Para ser celebridade você tem de emocionar a pessoa do outro lado”, diz.

O professor da Universidade Federal Fluminense, Felipe Pena, diz que a fama na web é um assunto cada vez mais discutido nas salas de aula. Sua linha de pesquisa atual é o imaginário que as pessoas têm sobre a tecnologia, e como isso muda na sociabilidade e na própria visão de sua identidade.

Como exemplo, ele cita a nutricionista Ruth Lemos, que virou a garota do sanduíche e até fez um comercial para uma operadora telefônica. Ela teve sua sociabilidade alterada e seus colegas começaram a vê-la com outros olhos. Ao tirar proveito da situação, só piorou a situação. “As celebridades se tornaram cada vez mais efêmeras”, diz.

E o que diferencia uma celebridade virtual de uma da TV ou do cinema?
“Não basta mais idealizar heróis ou entrar na intimidade deles. Agora é preciso que você encene o espetáculo. No palco contemporâneo, o espetáculo em cartaz é a vida, então as pessoas querem se ver nos personagens.”

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