quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Primeiro mapa da matéria escura!

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Cássio Leandro Barbosa


O Universo é constituído de 74% de energia escura, 22% de matéria escura e 4% de átomos, ou seja 96% do Universo é constituído de alguma coisa escura e desconhecida. Ninguém tem uma idéia firme do que seja a energia escura. Presume-se que a matéria escura seja constituída de uma relíquia do Big Bang, alguma partícula ainda não detectada.

A energia escura está associada com a expansão acelerada do Universo, mas não pode ser detectada ainda. A matéria escura produz efeitos gravitacionais em galáxias detectados já há algumas décadas. Mas até agora não houve quem conseguisse mapear a matéria escura em grande escala. Isso mudou neste domingo.

Saiu um artigo na revista "Nature" revelando o primeiro mapa da matéria escura do universo. A equipe liderada por Richard Massey, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) formou um mapa a partir da junção de centenas de imagens obtidas pelo telescópio Hubble no projeto Mapeamento da Evolução Cósmica (Cosmos na sigla em inglês) de uma grande região do céu.

Os contornos representam as áreas de matéria escura, enquanto as partes coloridas são a matéria comum. O mapa foi obtido a partir da técnica de lentes gravitacionais, na qual a luz de um objeto muito distante (uma galáxia ou quasar) é desviada quando passa nas proximidades de uma galáxia (ou aglomerado de galáxias) mais próximo. O efeito é tal e qual o produzido por uma lente comum de vidro, mas neste caso produzido pela ação da gravidade do objeto que estiver no meio do caminho.

A partir das imagens dessa luz desviada e uma técnica matemática bastante sólida, a equipe de Massey produziu o primeiro mapa da distribuição de matéria escura do Universo. Ele mostra grandes concentrações de matéria escura ao redor de regiões brilhantes, representando a matéria que conhecemos. Isso é a confirmação daquilo já suspeitávamos: a matéria escura age como um "esqueleto", ou às vezes "embrulha" a matéria bariônica (átomos e moléculas comuns).

Esse esqueleto ou embrulho aglutina a matéria comum, moldando e formando as galáxias e estrelas delas. Entretanto, alguma coisa estranha apareceu nesses mapas. Matéria escura sem matéria comum e matéria comum sem matéria escura, quando o esperado era encontrar sempre os dois associados.

Uma explicação possível é que esses algomerados de matéria escura isolados sejam pequenos demais para ter acumulado matéria comum. Outra, menos convincente, é que a concentração de matéria escura tenha provocado uma colisão de galáxias tão violenta que a matéria comum delas tenha se espalhado, e por isso não tenha sido detectada.

Os próprios astrônomos responsáveis por esse mapa admitem que a técnica matématica envolvida pode introduzir falhas que apareceriam no mapa como essa separação dos tipos de matéria. Essas falhas seriam mais comuns nas bordas do mapa, justamente onde esses achados estranhos foram identificados.

Ainda que esse mapa tenha saído com tais falhas, ele é muito importante para compreendermos um pouco melhor a matéria escura, que representa quatro quintos de toda a matéria do Universo. Imagine só querer saber sobre o passado e futuro do cosmo conhecendo apenas 4% dele! Neste caso sou obrigado a concordar com o Jairo, comentarista ácido e pessimista desta coluna. Estamos tateando no escuro (desculpem, não resisti!), mas temos de começar de algum jeito e em algum momento, não?

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