Reuters
Células de óvulos humanos podem ser manipuladas de modo a gerar as valiosas células-tronco, potencialmente adequadas à regeneração dos tecidos de diferentes grupos de pessoas, disseram cientistas dos EUA e da Rússia na quarta-feira.
Eles disseram que as células-tronco criadas a partir de óvulos humanos não-fertilizados parecem e agem como células-tronco embrionárias. Para evitar o risco de rejeição em caso de transplante de tecidos, elas foram tratadas com os mesmos cuidados que nas doações de medula. Assim, a empresa International Stem Cell Corp., da Califórnia, pretende criar um banco de células-tronco, em que haja exemplares adequados a cada tipo de tecido humano.
'O processo é eficiente, é relativamente seguro e é eticamente são', disse Jeffrey Janus, presidente e diretor de pesquisas da empresa, em entrevista telefônica. As células são criadas por um processo chamado parterogênese ('surgimento virgem,' pela etimologia greco-latina). Isso significa 'enganar' quimicamente o óvulo para que ele se desenvolva sem ser fertilizado por um espermatozóide.
Várias equipes já criaram células-tronco parterogênicas humanas a partir de óvulos. Outras criaram células semelhantes usando células cutâneas humanas ou embriões humanos. Em artigo na revista Cloning & Stem Cells, Janus e seus colegas relataram a criação de quatro linhagens de células-tronco, cada uma com propriedades imunológicas específicas. Quanto maior o "encaixe" com as células do paciente, menos risco existe de rejeição.
"Uma das nossas linhagens vai se adequar a 5% dos caucasianos brancos", disse Janus, contando que há ainda uma linhagem que serve a 4,7% dos indígenas americanos e uma terceira para 1,2% dos afro-americanos. "Nossa meta é criar um banco de células-tronco da qual um médico ou pesquisador possa se servir", disse Janus. "Isso faria a medicina regenerativa dar um grande passo na direção da realidade".
Células-tronco são uma espécie de "manual de instruções" do organismo, capaz de dar origem a qualquer tipo de tecido ou órgão. Em condições ideais de laboratório, as células-tronco são praticamente imortais. Usar as células-tronco de embriões descartados nas clínicas de fertilidade é a linha de pesquisa mais promissora, mas que esbarra nas objeções dos adversários do aborto. Alguns países, inclusive os EUA, restringem as pesquisas com células-tronco embrionárias.
Por isso, alguns especialistas vêem nas células-tronco de óvulos uma possibilidade real. Elena Revazova, pesquisadora do International Stem Cell, recrutou mulheres que faziam tratamento de fertilidade na Rússia e que aceitaram doar óvulos que restavam ao final do processo sem serem fertilizados.
A equipe conseguiu que quatro dos óvulos se dividissem o bastante para gerar as células-tronco. Em seguida, fizeram a comparação imunológica dessas células com os tipos conhecidos da população. Agora, os cientistas trabalham para diferenciar as células - cultivas os diferentes tecidos. Janus disse que o primeiro objetivo é fazer células hepáticas, pancreáticas e retinais.
Alguns cientistas dizem que a questão da rejeição seria eliminada se cada paciente cultivasse as próprias células-tronco, mas Janus argumentou que isso é muito demorado. As células-tronco armazenadas no banco da empresa poderiam ser reproduzidas e congeladas, ficando prontas para uso imediato.
Ian Wilmut, geneticista que se tornou célebre por criar Dolly, a ovelha clonada, disse por email que a teoria por trás dessa pesquisa é sensata. "O valor de tais células ainda é desconhecido e depende de técnicas concorrentes", ressalvou.
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