via Terra
Há cerca de 3,9 bilhões de anos, uma mudança na órbita dos planetas mais distantes do sol enviou uma tempestade de grandes cometas e asteróides descontrolados no interior do sistema solar. Seus violentos impactos geraram grandes crateras ainda visíveis na superfície da lua, aqueceram a superfície da Terra, transformando-a em rocha derretida e vaporizaram os oceanos em uma névoa incandescente.
Contudo, as rochas que se formaram na Terra há 3,8 bilhões de anos, praticamente logo após o fim do bombardeio, contêm possíveis evidências de processos biológicos.
Se a vida pode surgir a partir de matéria inorgânica tão rápida e facilmente, por que ela não é abundante no sistema solar e além? Se a biologia é uma propriedade inerente à matéria, por que os químicos até agora foram incapazes de reconstruir a vida, ou qualquer coisa próxima disso, no laboratório?
Cientistas eminentes como Francis Crick, principal teórico da biologia molecular, sugeriram discretamente que a vida poderia ter se originado em outro lugar antes de ser semeada no planeta, pela dificuldade de se encontrar uma explicação plausível para seu surgimento na Terra.
Nos últimos anos, entretanto, quatro avanços surpreendentes renovaram a confiança de que uma explicação terrestre para a origem da vida irá um dia surgir.
Com esses quatro avanços recentes - as protocélulas de Szostak, o RNA que se autoduplica, a síntese natural de nucleotídeos e uma explicação para a diferença no uso dos lados esquerdo e direito das moléculas - os estudiosos da origem da vida possuem muitos motivos para se alegrarem, apesar do longo caminho ainda a ser percorrido.
Mas muitos biólogos acreditam que os constituintes necessários da vida estariam sempre diluídos demais nos oceanos. Eles defendem, como Darwin, que a origem da vida ocorreu em um lago aquecido de água doce, onde os ciclos de encharque e evaporação nas margens poderiam produzir concentrações e processos químicos úteis.
Ninguém sabe ao certo quando a vida começou. A evidência mais antiga, e em geral aceita, de células vivas são fósseis de bactéria com 1,9 bilhão de anos da formação Gunflint em Ontário. Mas rochas de dois locais na Groenlândia, contendo uma mistura incomum de isótopos de carbono que poderiam ser uma evidência de processos biológicos, têm 3,8 bilhões de anos.
Como a vida poderia ter começado tão rapidamente, considerando que a superfície da Terra provavelmente estava esterilizada pelo último bombardeio intenso ― a chuva de cometas e asteróides gigantes que caiu sobre a Terra e a lua há cerca de 3,9 bilhões de anos?
Stephen Mojzsis, geólogo da Universidade do Colorado que analisou um dos locais na Groenlândia, afirmou na Nature, no mês passado, que o último bombardeio intenso não teria matado tudo, como geralmente se acredita. Segundo ele, a vida teria começado muito antes e sobrevivido ao bombardeio em ambientes nas profundezas do mar.
Evidências recentes de rochas extremamente antigas, conhecidas como zircônio, sugere que oceanos estáveis e a crosta continental surgiram há cerca de 4,4 bilhões de anos, apenas 150 milhões de anos após a formação da Terra. Por isso, a vida poderia ter começado meio bilhão de anos antes do bombardeio cataclísmico. [Leia+] [Tradução Amy Traduções] [The New York Times]
"A origem da vida na Terra é repleta de enigmas e paradoxos. Quem veio primeiro? As proteínas de células vivas ou a informação genética que as compõe? Como o metabolismo de seres vivos pôde começar sem um envoltório membranoso para manter todas as substâncias químicas necessárias juntas? Mas se a vida começou dentro da membrana de uma célula, como os nutrientes necessários entraram nela?"
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