via Zero Hora [EDITORIAIS]
Em mais um desconcertante movimento de pragmatismo político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se ontem com a bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado para demover os parlamentares favoráveis ao afastamento de José Sarney da presidência da Casa.
O ex-presidente da República, como se sabe, vem sendo alvo de uma série de denúncias que incluem favorecimento a parentes e amigos, uso indevido de auxílio-moradia e conivência com o esquema dos chamados atos secretos, comandados por seu afilhado político, o ex-diretor Agaciel Maia.
Por sua representatividade e por sua história, o senador maranhense que se elegeu pelo Amapá acabou concentrando a indignação dos cidadãos com sucessivas irregularidades e desmandos revelados nos últimos dias.
Fosse em outra época, o PT promoveria passeatas para exigir a renúncia do presidente do Senado. Mas o partido comprometeu a bandeira da moralidade pública quando seu líder maior, o presidente Lula, convenceu-se de que só se elegeria e manteria a governabilidade se fizesse alianças estratégicas com antigos inimigos.
O caso do ex-presidente Sarney é dos mais emblemáticos. Interessado em manter o PMDB na sua base de apoio e na aliança de sua sucessão, Lula passa por cima de divergências históricas e diz que Sarney “não pode ser tratado como uma pessoa comum”.
Mesmo com toda a popularidade de que desfruta, em razão do acerto de seu governo na condução da política econômica e de inegáveis avanços sociais, o presidente da República constrange a nação com atitudes como essa, que revelam preocupante flexibilidade moral.
Deixa em situação difícil, também, seus correligionários. Foi constrangedor, por exemplo, ver esta semana a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) subir à tribuna do Senado para defender a permanência de José Sarney. Tem sido igualmente incômodo para parlamentares como os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Aloizio Mercadante (PT-SP), históricos na militância de causas morais, terem que fechar os olhos para uma orientação partidária que fere seus princípios.
Desde o célebre episódio do mensalão, a condescendência do presidente Lula com comportamentos questionáveis de aliados tem causado desconforto nas pessoas que lutam pela decência na administração pública e na sociedade. Fica-se com a impressão de que o chefe da nação deixa em segundo plano seus compromissos com a ética quando se trata de garantir apoio político para o seu governo.
"Não é isso, definitivamente, o que os brasileiros esperam de um homem que atingiu a dimensão do presidente brasileiro e já se transformou numa liderança política respeitada em todo o mundo."
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